As sociedades que apresentam níveis educacionais altos têm mais chances de empreender negócios inovadores e criativos. Assim sendo, o papel dos governos em assegurar educação de qualidade para todos é cada vez mais importante. O desenvolvimento econômico é liderado cada vez mais pela produção baseada no conhecimento, ideias e informação, ou seja, ativos intangíveis que impõem uma nova agenda aos poderes públicos e perfis distintos aos empreendedores. Um papel importante também está reservado aos institutos de pesquisa e às universidades, com suas competências em tecnologias e inovações.
Conforme Richard Florida (2011, p. 4-5), “A criatividade – ou, segundo o dicionário Webster, ‘a capacidade de inovar de forma significativa’ – é o fator determinante”. Para ele, o centro da classe criativa é formado por indivíduos das ciências, das engenharias, da arquitetura e do design, da educação, das artes plásticas, da música e do entretenimento, cuja função econômica é criar novas ideias, novas tecnologias e/ou novos conteúdos criativos. Segundo ele, os trabalhadores da classe criativa ganham em média duas vezes mais do que os trabalhadores dos serviços e da indústria. Para esses trabalhadores, o estilo de vida é mais importante que a disponibilidade de emprego na hora de decidir onde morar.
Nesse novo contexto, os governos têm papel central no sistema educacional e cultural, bem como nas parcerias público-privadas necessárias para assegurar a rentabilidade dos negócios criativos.
Por isso, nos países que desenvolvem programas e projetos criativos transformadores, são utilizados instrumentos complementares locais, regionais e centrais que sustentam novas estratégias de desenvolvimento. Entre eles se destacam as startups, as aceleradoras que auxiliam a experimentação de novos produtos e serviços, os anjos investidores, os modelos de crowdfunding para alavancar recursos financeiros, o planejamento baseado em canvas, os espaços colaborativos de cowork, as avaliações pelo Minimum viable product (Mvp), a concorrência entre modelos de negócios, as equipes multifuncionais, os dados nas nuvens, os trabalhos em rede, o empoderamento das lideranças empreendedoras e de todos os colaboradores, a conectividade e o trabalho virtual, a valorização do trabalho e do empreendedorismo feminino. Essas estratégias também despertam cada vez mais uma geração de jovens empreendedores e consumidores para o consumo consciente e a preservação ambiental.
Apesar das evidentes vantagens competitivas dos segmentos criativos, não existem dicotomias entre eles e os demais setores da economia, ao contrário, segundo Lidia Goldenstein (2010), “a vitalidade da economia criativa de um país estimula a criatividade e a capacidade de inovação na economia como um todo. Mas esse forte vínculo depende dos mecanismos de transmissão adequados para encorajar a conectividade e transportabilidade da economia criativa para o resto da economia”. E não existem receitas prontas para se construir esses mecanismos de transmissão. Cada país ou região experimenta seus caminhos com diferentes políticas e instrumentos de desenvolvimento.
A economia criativa fortalece as empresas de outros segmentos – indústria, serviços e agroindústria em geral – por meio de investimentos em intangíveis (pesquisa e desenvolvimento, sistemas organizacionais, software, design, marca, capital humano), que passam a ter maior capacidade de criatividade e inovação em novos produtos, processos, serviços e sistemas.
Em um momento no qual é preciso reorganizar os aspectos corporativos das empresas, seria estratégico que estas identifiquem a economia criativa como um novo potencial para alavancar seus negócios, diversificar a produção, muito além das commodities.
Portanto, conclui Goldeinstein (2010), o desafio das cidades, regiões e países não é só encorajar o desenvolvimento das empresas criativas, mas também encorajar todos os demais empreendimentos a se tornarem criativos. Segundo ela, atualmente espera-se que a força de trabalho participe, experimente, ofereça sugestões de como melhorar os processos de produção e não apenas aplique a informação em sequência mecânica. A criatividade de todos os trabalhadores, consumidores e empreendedores é essencial para a geração de inovações e o aumento da competitividade dos negócios.
Os segmentos criativos também têm uma relação orgânica com o setor cultural nas suas mais diversas manifestações populares e clássicas: artes plásticas, cinema, fotografia, teatro, dança, música e outras. E, portanto, cada vez mais o sucesso de uma economia depende do sucesso da economia criativa que, por sua vez, depende do sucesso do setor cultural.
O fortalecimento da economia criativa de países, regiões, municípios e cidades contribui para o desenvolvimento endógeno, ou seja, para impulsionar a força produtiva que nasce das potencialidades locais, identificadas por meio de metodologias de mapeamento de singularidades criativas que utilizam diferentes técnicas de pesquisa. Os resultados dessas pesquisas apontam para um conjunto de diretrizes prioritárias de ações e de investimentos públicos e privados locais que proporcionam o desenvolvimento mais eficaz dos negócios em geral e dos empreendimentos criativos em particular.
Políticas públicas inovadoras e parcerias público-privadas têm sido utilizadas em todo o mundo visando estimular o surgimento de projetos que sustentem empreendimentos criativos. Entre elas destacam-se: redefinições apropriadas do zoneamento urbano, revitalização de áreas urbanas degradadas, fortalecimento de centros educacionais e culturais, projetos de pesquisas e de tecnologia, criação de espaços para empreendimentos criativos (clusters), galerias de arte, bibliotecas modernas, salas de cinema e demais empreendimentos de audiovisual, museus, infraestrutura eficiente de conectividade, mobilidade urbana diversificada e eficiente, áreas verdes e de lazer, incubadoras, aceleradoras e espaços de cowork.
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