No final de novembro, a SOFTSUL promoveu uma edição especial do Panorama SOFTSUL, o último do ano. Naquela oportunidade, o evento contou com a diretoria de inovação da FINEP, trazendo Márcio Girão, diretor de inovação da FINEP, e André Nunes, superintendente da ADET/FINEP – Área de Inovação em Defesa, Energia e Tecnologia da Informação. Aproveitamos a oportunidade para entrevistá-los, esclarecendo ainda mais pontos sobre os editais, programas de financiamento e seus impactos para as empresas de TI. Confira:
– Quais as principais ações da FINEP para incentivar ecossistemas de inovação?
Márcio Girão – Oferecemos instrumentos de alocação de recursos nas formas de crédito subsidiado, subvenção às empresas, convênios com entidades de pesquisa e desenvolvimento, investimentos em fundos ou diretos em empresas, incluindo as startups. Por outro lado, a FINEP também atua como agente indutor da inovação nas empresas e na promoção de sua integração com as entidades acadêmicas.
– Quais os temas prioritários dos atuais financiamentos da FINEP (por ex.: IOT, Blockchain, Smart Cities etc.)?
Márcio Girão – A FINEP atua em praticamente todos os temas de interesse das políticas de desenvolvimento por meio das empresas no país como, por exemplo, Òleo & Gás, mineração, aeroespacial, saúde, biotecnologia, engenharia, TIC, economia criativa, educação etc. A financiadora desenvolve projetos especiais que envolvem vários desses temas como Indústria 4.0, Equipamentos de Telecom, Transformação Mineral, Transferência de Tecnologia no setor Aeroespacial etc.
– Na segunda rodada do edital 2017 do Programa FINEP Startup, foram incluídas as tecnologias habilitadoras. Poderia comentar o impacto disso para as empresas de TI?
André Nunes – A inovação, muitas vezes, se dá na intersecção ou no uso combinado de várias tecnologias, servindo a Área Temática como o fio condutor para se cumprir um determinado objetivo. No entanto, entendemos que pode ser mais rico apoiar não apenas as Áreas Temáticas, mas, também, individualmente, aquelas Tecnologias que materializam o objetivo pretendido. E isso se dá principalmente pelo seu largo potencial de aplicação em frentes que sequer podem ser conhecidas pelo Agente Público, Mercado ou Academia. Um exemplo: imagine um drone equipado com câmeras capazes de, autonomamente, identificar pragas, dotado com sistema de navegação de altíssima precisão, que o faz desviar de obstáculos como folhagens e galhos, que se comunica permanentemente com sensores instalados no solo, os quais leem parâmetros diversos de temperatura, umidade e alcalinidade e que podem dar pistas quanto à presença de pragas; considere que este mesmo drone também possui um sistema de comportas que libera os predadores naturais daquelas pragas, embora geneticamente programados para serem estéreis e falecerem em 72 horas. Como classificaríamos este empreendimento? Agricultura de Precisão, IoT, Biotech ou Inteligência Artficial? Entendemos que a inovação não pode ser aprisionada apenas por uma regra de categorização, inibindo ou deixando de consagrar avanços importantes. Se, por um lado, o Estado deve ter objetivos suficientemente claros para alocar recursos públicos escassos, por outro, os limites de apoio à inovação não devem ser tão precisos, mesmo porque a imprecisão e a incerteza são inerentes à inovação.
A Indústria de TI, sobretudo o segmento de empresas nascentes de base tecnológica, está diante de uma grande oportunidade para alavancar a chegada ao mercado de produtos realmente inovadores e trilhar o caminho do crescimento escalável. Embora o atual leque de Tecnologias Habilitadoras selecionadas não tenha por objetivo privilegiar esta ou aquela indústria, certamente a de TI está em posição mais favorável – justamente por sua natureza transversal, assim como as Tecnologias Habilitadoras – e pelo reconhecimento de que muitos negócios são, na verdade, negócios baseados em TI. Apenas para citar as Tecnologias Habilitadoras presentes neste Edital e diretamente relacionadas à TI, temos a Inteligência Artificial, Blockchain, IoT e Realidades Aumentada, Virtual e Mista. Entretanto, todas as Áreas Temáticas apresentam, em maior ou menor medida, possibilidade de receberem propostas cujo o cerne esteja baseado em Soluções de TI.
– Em sua apresentação durante o Panorama Especial SOFTSUL, o senhor comentou que já recebeu a “encomenda” de criar um programa para incentivar negócios com empresas de TI nos mesmos moldes do Programa de Apoio à Aquisição Inovadora em Empresas de Telecomunicações. Qual a previsão para isso? E de onde viriam os recursos?
André Nunes – A Finep lançou, recentemente, um Programa específico para a aquisição de equipamentos de telecomunicações desenvolvidos no país, em conformidade com a Portaria MCTI 950. Este programa é inovador, pois muda a forma mais tradicional de financiamento da Inovação. Assim, a Finep passou a estimular o ciclo da inovação pelo lado da demanda também, e não somente pelo lado da oferta de novos produtos, processos e serviços. Destaca-se que o financiamento da inovação pelo lado da demanda é um tema corriqueiro na literatura de inovação, mas que não era utilizado pela Finep como referencial teórico para embasar os seus instrumentos de financiamento.
O setor de TI identificou que um instrumento análogo para o setor seria de suma importância, o que gerou a mobilização do Diretor Márcio Girão para o desenvolvimento de um mecanismo de financiamento que pudesse atender ao mercado de TI utilizando a lógica de estimulo à inovação pelo lado da demanda.
A equipe ainda está estudando de que forma o mecanismo de financiamento poderia ser implementado de modo ágil e eficaz, bem como com taxas, prazos e garantias adequadas para o setor de TI. A Finep possui recursos próprios, os quais poderiam ser utilizados neste tipo de instrumento.
– Sabemos que muitas empresas de TI têm dificuldades com a apresentação das garantias para a obtenção de financiamentos da FINEP. Qual a possibilidade de existir um fundo garantidor de crédito em operações diretas com a FINEP? Haveria alguma outra saída para equacionar este problema?
André Nunes – A Diretoria Financeira da Finep está trabalhando no desenvolvimento de novos mecanismos de garantia, e a busca ou desenvolvimento de um fundo garantidor poderia ser uma solução que atenderia ao setor de TI. Cabe aqui destacar que a Diretoria Financeira lançou, este ano, um novo mecanismo de garantia: o Seguro Garantia. O lançamento desta modalidade de garantia demonstra o empenho em desenvolver novas possibilidades e mecanismos que atendam as reais necessidades do mercado.
Outro instrumento importante que dever ser destacado é o programa de Startup que permite o apoio a empresas que dificilmente teriam acesso ao mecanismo de crédito tradicional, em função do seu estágio de maturidade financeira. A solução para a questão de garantia passa pela elaboração de novos instrumentos de garantia e novas modalidades de apoio para as empresas.
– Existe alguma previsão para os financiamentos não reembolsáveis a projetos de inovação voltarem aos níveis de anos anteriores?
Márcio Girão – Estamos num momento de crise no país, e a contenção dos gastos públicos é um imperativo. Entretanto, temos reivindicado tratamento especial para a CT&I na consideração de não-linearidade nos cortes previstos, de forma a afetar menos o setor de produção de conhecimento e inovação, cujas metas internacionais se movem constantemente.
– E sobre a subvenção econômica, há previsão para retomar o apoio financeiro direto aos projetos de inovação das empresas (por ex.: os programas inova – inova agro, inova saúde)?
Márcio Girão – Da mesma forma, as subvenção estão bastante contidas neste momento.
– No que diz respeito aos resultados das linhas de financiamento para empresas de TI do Rio Grande do Sul, quais foram mais bem-sucedidas?
André Nunes – O setor de TICs do Rio Grande do Sul sempre ocupou um espaço relevante na carteira de projetos do Departamento de Tecnologias da Informação e Economia Criativa da Finep. Uma das principais características da TI gaúcha é o de fazer uso de todos os instrumentos de financiamento operados pela Finep.
As empresas gaúchas possuem projetos reembolsáveis (crédito), projetos não reembolsáveis (Subvenção Econômica e Projetos Cooperativos – Universidade/empresa) e até mesmo operações de Investimento Direto.
Cabe aqui destacar que o ecossistema de TI é muito bem estruturado no Rio Grande do Sul. A parceria entre instituições científicas tecnológicas (ICT’s) e empresas atingiu um estágio de maturidade bastante elevado, o que contribui para a construção de um círculo virtuoso, que não só beneficia o sistema de inovação no Estado, mas o sistema nacional de ciência, tecnologia e Inovação.
– Qual a importância do trabalho da SOFTSUL como entidade de apoio às empresas para captação desses recursos junto a FINEP e, sendo ICT, como vê o papel da entidade na execução dos projetos?
André Nunes – A SOFTSUL possui um papel relevante e de parceira com a Finep. Ela é uma instituição que tem múltiplas funções, dentre as quais destacamos a competência técnica na execução de projetos de pesquisa e desenvolvimento e a capacidade de mobilização do setor de TI, além de ser importante agente SOFTEX.
Sabemos que a SOFTSUL tem como um dos seus objetivos gerar o aumento da competitividade das empresas do setor produtivo de Tecnologia da Informação e Comunicação e, assim sendo, poderá utilizar a sua grande capacidade de mobilização e conhecimento setorial para apoiar as empresas, tanto na apresentação das diferentes linhas de fomento disponíveis, quanto no auxilio e amadurecimento de propostas de financiamento e de investimento.
– E na sua visão, qual a importância da SOFTSUL enquanto agente SOFTEX regional para ampliar o número de projetos do Estado na carteira de TI da FINEP?
Márcio Girão – A SOFTSUL detém tradicional liderança na representação das empresas de TI no RS, cuja participação nos projetos apoiados pela FINEP é bastante significativa.