Dr. Eduardo Moreira da Costa é fundador e Diretor Presidente da Pi-Academy (www.piacademy.com.br), empresa internacional de consultoria em empreendedorismo e inovação, e diretor do laboratório acadêmico LabCHIS (Cidades mais Humanas, Inteligentes e Sustentáveis) na UFSC. Professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC. (*)
1. Diante das atuais dificuldades econômicas do Brasil, como o setor de TI pode continuar crescendo?
– Focando em setores promissores da economia. Cito 2. O agronegócio continua crescendo a uma taxa anual de 2 dígitos e, com a queda do Real diante do Dólar, tende a crescer ainda mais nas exportações. O setor ainda é muito carente de novas tecnologias e é visto até com um certo preconceito, chamado de setor “primário” da economia. A Intel, por exemplo, resolveu focar atividades na chamada IOT do Agronegócio. O segundo setor que eu priorizaria é o de Cidades Humanas e Inteligentes. Não só os grandes centros de operação que a IBM, por exemplo, fornece. Mas a cidade das pessoas, com enormes oportunidades de apps, sensores, big data, e-gov, etc.
2. Qual a importância da Inovação para as empresas alcançarem o mercado internacional?
– A inovação é importante e não só para o mercado internacional. Mesmo no nosso mercado, é inovar ou inovar, pois os concorrentes estão em toda parte e estão olhando o nosso mercado também. O que eu tenho sentido falta no Brasil é de um pouco mais de ousadia nas nossas Startups: por uma questão de sobrevivência, estamos muito no campo do “me-too”, fazendo versões brasileiras de apps que já são sucesso lá fora. Precisamos inovar mesmo, começando talvez por setores ou coisas em que temos um diferencial natural em relação a outros países. O já citado agronegócio, o relacionamento, a música, a diversidade das pessoas e das plantas, a Amazônia… Lembrando o poeta maior da nossa língua, Fernando Pessoa, “Inovar é preciso!”
3. Como o Corporate Venture pode ser um diferencial para as empresas de TI?
– Na minha época na FINEP, criamos um referencial de sucesso para as pequenas empresas inovadoras. Elas teriam que ter MEDIG: mercado, equipe, dinheiro, inovação e gestão. Mais recentemente, acrescentei mais duas: Ambiente, e Capacidade de “Ler o Mundo”. De todas estas funções e características, uma se destaca e é a causa-mortis de milhares de startups no Brasil: o “M”, a falta de acesso a Mercado. O Corporate Venture é uma forma de conectar a startup com o mercado da Corporação, da empresa grande. Não é a startup como fornecedora da corporação – é a corporação dando à startup acesso ao seu mercado. Isto elimina o maior problema da startup e vem tendo grande sucesso nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, a minha empresa, a Pi-Academy (www.piacademy.com.br) especializou-se nisso e tivemos um resultado surpreendente na nossa primeira aceleradora corporativa (montada por uma empresa que adquirimos) para a SENIOR SISTEMAS, de Blumenau. De oito empresas aceleradas, a SENIOR resolveu investir em três, prorrogou a aceleração de mais três, e descartou apenas duas. Um sucesso.
4. Comente sobre as atividades da “Pi Academy”
– Temos dois produtos: o UNNIC, Unidade de Novos Negócios Inovadores para a Corporação, que é a aceleradora que mencionei acima, e o Master of Business Innovation, o MBI. O MBI é um curso de PG especializado em Inovação e com um enfoque mão-na-massa. Não concorre com os MBAs tradicionais, que formam o gestor para fazer aquilo que se sabe sobre gestão de grandes empresas. No nosso caso, formamos o empreendedor, seja criando a própria empresa, ou o intra-empreendedor, futuro Diretor de Novos Negócios das corporações. Neste curso fizemos uma parceria com a Mauá, de São Paulo (Instituto Mauá de Tecnologia), uma conceituada escola de engenharia, e unimos tecnologia com administração e design. As aulas começam em agosto deste ano e serão 4 semanas intensivas em São Paulo e 4 em Florianópolis, ao longo de um ano. A turma que conclui o curso apresenta os projetos finais para a turma que entra. Estamos muito animados com as possibilidades deste curso criar uma nova geração de inovadores no Brasil, com os quais queremos manter relações estreitas ao longo do seu desenvolvimento profissional.
5. Como você pensa que a SOFTSUL pode apoiar o setor de TI, no tema Inovação?
– Fazendo tudo que vocês já fazem (sou ligado à Softsul desde a sua criação) e focando cada vez mais em Inovação. O mundo está mudando muito rapidamente e temos que abrir os olhos para o que significa na essência o fato que presenciamos. O serviço UBER, por exemplo, é visto como um concorrente do taxi. Na verdade, ele é muito mais do que isto: é um conjunto de usuários dizendo ao governo (a Prefeitura, no caso) que ele prefere se informar sobre a qualidade do serviço com os próprios usuários e não com um burocrata do governo estabelecendo uma vez por ano que aquele taxi pode rodar na cidade. O UBER é um exemplo de des-regulação do estado, com profundo impacto em vários outros setores. A inovação agora é essencial, é função estratégica dentro de qualquer empresa que queira crescer. Guimarães Rosa disse num dos seus livros que “o sapo pula num é de buniteza, é de percisão”.
(*) Saiba mais sobre Eduardo Costa
Autor do livro Global E-commerce Strategies for Small Businesses (MIT Press, 2001), escrito e publicado em Inglês e depois traduzido para Chinês e Japonês (2001 a 2003). Criador e coordenador do primeiro MBA em e-Gov do país, o MeGA. Consultor do BID (na área de e-commerce), Banco Mundial (coordenador de avaliação do Programa InfoDev) e do World Economic Forum na área da inovação. Nos EUA, foi “visiting scholar” na Universidade de Harvard de 1997-2002. No Brasil, foi Diretor de Inovação da FINEP (2007-2010), criador dos programas PRIME, JURO ZERO e 14Bis (com forte presença na Casa Brasil em Johannesburgh na Copa 2010 e na Exposição na Embaixada Brasileira durante as Olimpíadas de Londres de 2012); Diretor do CNPq (1993-1997), criador do programa SOFTEX 2000 de incentivo à exportação brasileira de software; Pesquisador do CPqD da TELEBRÁS e consultor do IEL-Nacional (onde escreveu o primeiro manual brasileiro sobre o comércio eletrônico, ainda em 1998) e dezenas de empresas e organizações. Dr. Eduardo Costa é engenheiro eletricista e M.Sc. em Ciência da Computação pela UFMG e Ph.D. em eletrônica pela Universidade de Southampton, na Inglaterra. Membro da Ordem do Mérito Científico do Governo Brasileiro (2010). Conselheiro de entidades e membro do Conselho de Administração de 2 empresas (SENIOR Sistemas – Blumenau, e HOPLON – Florianópolis), é palestrante conhecido no Brasil e no exterior nas áreas de Inovação; Empreendedorismo; Cidades Humanas, Inteligentes e Sustentáveis; Novas Políticas Públicas e Organizacionais; e Capital de Risco.
