Cobertura do ITK 2020 Digital pela Revista Amanhã
Terceiro dia de ITK debateu a inclusão de conceitos de programação no ensino básico
EDUARDA PEREIRA
07/10/2020 17:39 | Atualizado 07/10/2020 17:4
Para o pesquisador Adelmo Eloy, o ensino da programação no ensino básico é um bom começo, mas não basta
“Não apenas compre um novo videogame. Construa um.” A fala do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama reacendeu uma discussão antiga entre estudiosos da área da computação. Afinal, será que todos devem aprender a programar? Qual a importância de incluir esses conceitos já na educação básica? E que tipos de benefícios a longo prazo essa atitude pode trazer aos países? O pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia, Adelmo Eloy, se propôs a responder a essa pergunta no terceiro dia de Innovation Tech Knowledge (ITK) 2020. “Em meados de 2006, um novo termo chamado pensamento computacional foi definido como algo próximo da ciência da computação. Mas gosto de dizer que é uma habilidade humana que permite que qualquer pessoa que não seja cientista seja capaz de, em diferentes níveis de expertise e aprofundamentos, desenvolver habilidades similares e no mesmo direcionamento de um cientista da computação, formulando problemas e encontrando soluções”, conta Eloy. Daí vem a discussão em torno de aproximar a ciência da computação da educação básica.
Foi pensando nisso que um estudo da Columbia caracterizou e evidenciou as diferentes abordagens que impulsionam essa inclusão de programas de computação na educação básica. O principal é a motivação do mercado de trabalho, que, inegavelmente, evolui para um universo cada vez mais digital. “Introduzir habilidades relacionadas à programação pode não só começar a capacitar uma geração de forma mais antecipada, mas também desenvolver interesse de buscarem carreiras nesse sentido”, explica Eloy. Agências especializadas em tendências de carreira já apontam que a diferença entre a demanda do mercado de trabalho por profissionais da computação e o número de profissionais que se formam na área é cada vez maior – e não há profissionais suficientes para preencher as vagas abertas.
Outra abordagem é o pensamento computacional, que se estende em diferentes áreas e serve como ponte entre o universo escolar e o mercado de trabalho. Também está conectado com o letramento computacional que, em poucas palavras, é a capacidade de ler e escrever em códigos digitais. “Poder fazer isso na sociedade digital em que vivemos é ser capaz de expressar o mundo em que se vive. É muito menos uma questão de habilidade técnica específica, mas uma ferramenta poderosa para sermos cidadãos plenos no mundo, tendo a habilidade de entender e questionar como as tecnologias influenciam nosso cotidiano”, analisa Eloy. Mas, afinal, será que o caminho é ensinar crianças a programar? Para ele, essa é uma possibilidade, mas não deve ser o destino final. “O foco na habilidade técnica não é suficiente. Se focarmos apenas em códigos, provavelmente vamos ficar desatualizados junto com eles em pouquíssimo tempo. É preciso ir além, tanto técnica quanto socialmente. Não apenas construir a tecnologia, mas, também, refletir sobre ela de forma crítica e ética”, finaliza.
Educação inclusiva
Karla Esquerre, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e segunda participante da mesa redonda, alertou para o desafio de levar a computação ao ensino público do país, mas ressaltou que essa atitude resolveria problemas de aprendizado que já são observados agora. “Os alunos estão inseridos em um ambiente muito tecnológico e têm contato diário com dados e informações de diversas formas, como gráficos, tabelas, vídeos, sons. Mas eles não são capazes, nesse momento, de entender ou utilizar toda essa informação que chega. Nossos estudantes lutam diariamente para se manterem na escola, que representa, muitas vezes, um cenário de insegurança dentro das comunidades”, explicou. Ela ressaltou, também, a ainda existente desigualdade entre a presença masculina e feminina no universo da computação, já que os homens são maioria em cursos da área. Mas, para Karla, essa estrutura de desafios é justamente o que estimula os alunos a promoverem mudanças na sociedade. Ao oferecer as técnicas e os conhecimentos a esses futuros atores e protagonistas de transformação, é dado o primeiro passo, também, para mudanças extremamente positivas.
Fonte: Revista Amanhã – EDUARDA PEREIRA